top of page

CRÍTICA

"As mãos contam histórias. Os seus traços profundos carregam o peso do trabalho, rejubilam a mocidade, lembram a vida, o poema as relembra”

Assim é a sinopse de Flor de Lótus, um curta- documentário realizado por três alunas do 2º Ano de Licenciatura de Cinema da Universidade da Beira Interior. O documentário mostra o contraste entre a juventude e a velhice, sendo esses representados por narrativa e imagem. Segundo a sinopse do documentário, o agente determinante da curta é o poema em voice-off pois sem ele a curta poderia se encaminhar para um contexto completamente diferente.

O trabalho de correalização das realizadoras entretanto parece ser um factor não primordial na construção de "Flor de Lótus" pois não é perceptível a presença de qualquer cunho artístico que as distinguisse, desta forma conhecemos apenas quem está por trás dos cargos principais da equipa.mEm entrevista, uma das realizadoras e também Diretora de Fotografia, Maria Clara Norbachs, esclareceu alguns pontos sobre as escolha do conceito do documentário, dificuldades durante as rodagens e da preferência estética da fotografia em si.

 

Tal entrevista permite a criação de um novo ponto de vista talvez não percebido de primeira vista ao ver Flor de Lótus, Maria Clara Norbachs ao explicar as rodagens cita as adversidades em relação as questões técnicas ao filmar em um Lar de Idosos. Ter em conhecimento que o local é um Lar de Idosos é capaz de alterar o contexto e conceito do documentário?

De certa forma sim, na curta obtemos uma apresentação dos idosos de forma, por assim dizer, individual, íntima. Tal factor é causado pela aproximação aos detalhes, que nos limita ao que está em primeiro plano. Quando essa imagem construída é substituída pela ideia do coletivo  de um Lar de Idosos cria-se uma nova perspectiva para conceito de individualismo, entretanto a ambiência de melancolia e isolamento ainda está presente, seriam eles solitários mesmo quando não estão sós?

 

Outra forma de analisar "Flor de Lótus" é por sua capacidade de generalizar o conceito abordado, o elemento responsável por essa reação é o próprio poema que narra o documentário, "Recordam-se Vocês do Bom Tempo d’Outrora” de Abílio de Guerra Junqueiro. O poema retrata uma nostalgia dos tempos de juventude porém os planos que o seguem mostram pessoas ligadas apenas ao factor da idade. Construindo a ideia de que todos sentem o mesmo sobre o que o poema retrata. A categoria do documentário também é responsável pela limitação da narrativa, o documentário poético se aparta da concepção do documentário comum onde entrevistas mostram o ponto de vista de cada indivíduo, nisso Flor de Lótus, se essa foi sua premissa, atinge o objetivo com o poema, generaliza a velhice como melancólica e a juventude como nostálgica. Na fotografia o preto e branco extremamente contrastado clarifica as áreas em sombra, realçando as mãos enrugadas e calejadas pela idade. Tal escolha visual e técnica parece ter como referência o ensaio visual de Kogonada, um cineasta e guionista sul-coreano, ”Hands of Bresson" um trabalho dedicado à planos específicos das mãos, tais planos aparecem com certa freqüência nos filmes do Realizar francês Robert Bresson.

 

Em conclusão Flor de Lótus parece mostrar potencial despertando porventura o interesse de novos realizadores para área de documentário poético, permitindo uma nova visão sobre assuntos muitas vezes considerado como ordinários. 

Press Release: Depoimentos
bottom of page